segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Presente passado

A porta ao fundo abriu-se. Andou uns passos acompanhada pelo ranger da madeira antiga até chegar à cozinha. A luz era muita, vinha da janela e da porta que dava para o jardim. Já não entrava naquela casa há 20 anos. O tempo apoderou-se dela, mas não lhe conseguiu tirar a magia e vivacidade de outrora. Lembrava-se de tudo, das brincadeiras, dos jogos, da avó a chama-la para fazer o bolo. Os cheiros e as cores que se lhe acumulavam nos sentidos eram os mesmos.
A luz da rua convidou-a a sair e ela aceitou. Passeou por uns momentos ao mesmo tempo que recordava as aventuras que lá viveu. O baloiço de corda ainda lá estava. Sentou-se por baixo da árvore grande e lá ficou uns tempos a ouvir os pássaros e a sentir a brisa.
O tempo passou e levou o sol. Os pássaros recolheram, a brisa deixou de ser agradável. Estava na hora de voltar.
Entrou noutra porta e viu a sala. O avô sentado à lareira estava à espera de lhe dar colo e de lhe contar a história do dia. Do outro lado estava a mesa de madeira com as 8 cadeiras onde uma vez tropeçou e partiu a cabeça. O aparador com as taças e garrafas de cristal mantinha o espelho por cima. Olhou para ele e reflectiu uma mulher. Quem era? Nunca a viu. Há dias ouvira dizer que o futuro ia ser diferente, rápido na sua chegada.
O futuro misturou-se com o presente e com o passado e ela não tinha dado conta disso… Uma lágrima escorreu. O presente que amava transformou-se num passado vivo. O futuro era agora, não sabia como.
Agora só restavam as paredes e as lembranças. Tinha que sonhar, tinha que lá voltar, as saudades eram muitas…

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